sexta-feira, 10 de junho de 2011

A TRISTE HISTÓRIA DAS MORTES ANUNCIADAS

As mortes de diversas lideranças camponesas e agroextrativista reacenderam novamente a indignação das autoridades com este tipo de crime por encomenda e mobilizaram as diversas esferas de Poder que prometem uma OPERAÇÃO DEFESA DA VIDA na Região Amazônica, em especial no Pará, há muito campeão de conflitos agrários e assassinatos pela posse da terra, extração ilegal de madeira e trabalho escravo.

A violência e a impunidade formam uma realidade permanente no Pará e infelizmente estes crimes não são novidades em nosso Estado, ao contrário, anualmente a CPT – Comissão Pastoral da Terra - divulga uma triste lista dos ameaçados de morte e as dos que foram assassinados. Em 2004 a CPT enviou um dossiê estarrecedor à CPI da Reforma Agrária do Congresso Nacional, configurando os crimes no campo, os nomes das vítimas, o histórico dos assassinos e as terras em conflito. Nas últimas décadas centenas de trabalhadores rurais, dirigentes sindicais, religiosos, advogados, parlamentares e ativistas pela reforma agrária tombaram nesta luta. 
João Batista

Paulo Fonteles

Já na década de 80, o ex-deputado Paulo Fonteles usou a tribuna da Assembléia Legislativa para denunciar uma lista de marcados para morrer cuidadosamente elaborada por latifundiários de todas as regiões do Pará, que incluía o próprio Paulo Fonteles, o deputado João Batista, os dirigentes sindicais Benezinho (Tomé-Açu), João Canuto (Rio Maria), Salvadorzinho (Dom Elizeu) e o advogado Gabriel Pimenta (Marabá). A lista foi cumprida integralmente com todos sendo assassinados sem que as autoridades tomassem qualquer providência

Gabriel Pimenta

 Nova lista foi amplamente divulgada nos anos 90, agora incluindo lideranças camponesas como Mauro Carneiro e Chico Balela (Paragominas), Nicanor (Ipixuna do Pará), Expedito Ribeiro (Rio Maria), José e Paulo Canuto (Rio Maria), Doutor e Fusquinha (Parauapebas). Neste período aconteceu também a maior chacina do Estado, vitimando 19 sem terras e deixando seqüelas gravíssimas em 64 trabalhadores rurais, o massacre de Eldorado dos Carajás,numa demonstração de que o governo estadual (Gov. Almir Gabriel) através da força policial se equipara à pistolagem contratada por latifundiários e madeireiros na posse pela terra.


José Claudio e Maria


Irmã Dorothy stang
De 1971 a 2004 foram 772 camponeses assassinados no Pará. Foram expulsas 1100 famílias de suas terras nos últimos anos. São 407 trabalhadores rurais ameaçados. Três dos quatro mortos recentemente apareceram numa macabra lista desde 2001, entre eles o casal de castanheiros Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, que inclusive gravou um vídeo relatando que a qualquer momento poderiam ser mortos.                   
Massacre Eldorado dos Carajás

Entre 2000 e 2011, 42 camponeses foram assassinados no BR, destes 18 no Pará:

MUNICÍPIO
TRABALHADORES
CARGO
ANO
Rondon do Pará (PA)
José Dutra da Costa, "Dezinho"
Dirigente sindical
2000
Anapu (PA)
Ademir Alfeu Federicci, "Dema"
Dirigente sindical
2001
Irituia (PA)
Ivo Laurindo do Carmo, "Ivo Cruz"
Liderança
2001
Marabá (PA)
José Pinheiro Lima
Liderança
2001
Parauapebas / Marabá (PA)
Gilson Souza Lima
Liderança
2001
Parauapebas (PA)
Antônio Clênio Cunha Lemos
Lideranças
2002
Novo Repartimento (PA)
Raimundo Alves de Souza
Assentado
2002
Santa Maria das Barreiras (PA)
Ezequiel de Moraes Nascimento
Liderança
2004
Marabá (PA)
Pedro Laurindo da Silva
Liderança
2005
Anapu (PA)
Ir. Dorothy Mae Stang
Religiosa
2005
Bannach (PA)
Domingos Carneiro
Liderança
2006
Moju (PA)

Raimundo Nonato da Silva "Cinato"
Liderança
2006
Redenção (PA)
Pedro Alcântara de Souza
Liderança
2010
Santana do Araguaia (PA)
Paulo Roberto Paim
Liderança
2010
Nova Ipixuna (PA)
Maria do Espírito Santo da Silva
Liderança
2011
Nova Ipixuna (PA)
José Cláudio Ribeiro da Silva
Liderança
2011
Nova Ipixuna (PA)
Erenilton Pereira dos Santos
Liderança
2011
Eldorado dos Carajás (PA)
Marcos Gomes da Silva
Lavrador
2011






























Nem essas estatísticas dolorosas foram capazes de freiar a impunidade. Hoje nenhum dos mandantes está preso e os poucos que foram julgados estão respondendo em liberdade. Quanto aos pistoleiros poucos são os que foram julgados, condenados e presos, a maioria está foragido e há ainda a figura do intermediário que poucas vezes é identificado. Esta estrutura deste crime organizado já deveria ter sido investigada pelas autoridades policiais e severamente punida pelo Judiciário.

No momento que o Governo Federal anuncia a Operação Defesa da Vida espero que finalmente o Poder Público se convença do combate permanente do crime do latifúndio que de forma selecionada tira a vida daqueles lutadores de direitos. Espero ainda que se inaugure um novo tempo de combate a impunidade e que não nos mobilizemos só quando ocorrem tragédias.

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