O Fórum da Moradia surgiu da necessidade de organizar os moradores ocupantes e mutuários que lutam pelo direito à moradia nos conjuntos habitacionais financiados pela Caixa e outras financeiras que, em determinado momento, foram prejudicados pelo descompasso entre o aumento das mensalidades dos imóveis e a política do arrocho salarial (que vigorou no Brasil antes do governo Lula) tornando as pessoas inadimplentes.
Uma das lideranças que se credenciou neste movimento, foi o companheiro Adelcydio Silva, conhecido no movimento popular como “Chapolin”, que é um dos lutadores do Fórum de Luta pela Moradia. Ele nos conta um pouco mais sobre esta nobre luta, como funciona o movimento e como andam as negociações com a Caixa Econômica e, as mobilizações contra as ações de despejo.
Veja a entrevista:
No início dessa luta eram cerca de 76 mil imóveis ocupados e em situação de negociação, hoje quase vinte anos depois, são pouco mais de 2 mil. AO QUE SE DEVE ESSA DIMINUIÇÃO?
Essa diminuição é decorrente da flexibilidade do governo federal pra negociar, a partir do governo Lula e as muitas pressões que o nosso movimento, articulado com os moradores tem feito ao longo desses anos.
QUAL A MAIOR DIFICULDADE ENCONTRADA PELO FÓRUM HOJE? São muitas. Dentre elas destaco duas:
· A difícil tarefa de negociar com a direção da Caixa Econômica a nível estadual, talvez motivada por motivos políticos. Inclusive, uma das reivindicações do movimento é o afastamento de três servidores do alto-escalão. Quando a gente dialoga com Brasília as coisas fluem, mas o comando daqui sempre dificulta, fazendo o oposto do que foi decidido lá, ou encontrando algum artifício que inviabilize as demandas aprovadas.
· A segunda é sem dúvida a especulação imobiliária. Isso porque os consórcios arrematam os imóveis no leilão, entram na justiça, “fazem uma capa” e depois apresentam uma proposta de negociação desigual aos moradores, às vezes chegam a ser três vezes maior que o valor do imóvel! Tudo isso com o aval da justiça.
E QUANTOS IMÓVEIS OCUPADOS FORAM VENDIDOS ATÉ AGORA? Muitos. Segundo um levantamento feito, só agora foram vendidos para terceiros 40 imóveis, sendo que, uma única pessoa comprou 8 imóveis de uma só vez. Olha a contradição: Enquanto os moradores passam anos tentando negociar, tendo que apresentar “mil e um documentos”, os especuladores apenas RG e CPF. A contrariedade é tamanha, que até quem responde na justiça por sete processos criminais, comprou uma casa de uma moradora do Conjunto Orlando Lobato.
FOI NESTE CONJUNTO QUE DERRUBARAM UMA CASA DEPOIS DE UMA REINTEGRAÇÃO DE POSSE? Sim, foram situações injustas como esta, que causaram muita revolta na população, que fechou a Rodovia Augusto Montenegro em um grande protesto.
QUAIS OS DESAFIOS A PARTIR DE AGORA? Existem ainda 20 ações de despejo em trânsito na rua. Cada morador tem uma reação diferente quando recebe a notícia, alguns se mudam – até de madrugada – por conta da vergonha ou até mesmo com medo do aparato policial. Outros resistem e vão à luta, por que é direito nosso ter moradia digna. Por isso, temos mobilizado a todos, nos reunido constantemente e trocado informaçõ es, pra garantir a resistência e a permanência dos moradores.
E O QUE FAZER QUANDO UM MORADOR CONSTATAR QUE SEU IMÓVEL ENTROU NA LISTA DE LEILÕES OU FOI VENDIDO? Bom, cada caso é um caso, o Fórum tem um serviço gratuito e voluntário de consultoria, com advogados e amigos que orientam como agir. É importante estar atendo pra recorrer, não perder os prazos, entrar com ação de suspensão etc. Para quem precisar nossa sede fica na Tavares Bastos (próximo a Almirante Barroso) Tel.: 3238-0116.
Essa luta que devolveu a dignidade a milhares de famílias segue até que não haja mais ninguém sem teto e moradia digna.
Por Bruno Leão
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