Vítimas de falsas promessas, brasileiras são aliciadas pelo tráfico internacional de pessoas e colocam o País como o maior exportador de mulheres das Américas. Sem saber, elas embarcam numa viagem de exploração sexual, violência e escravidão.
Elas são jovens, negras, largaram a escola cedo, moram em regiões precárias e são vítimas de violência doméstica. Vulneráveis, essas mulheres são o alvo principal do tráfico de pessoas. E por se encontrarem em um contexto de fragilidade são as presas perfeitas para exploração sexual promovida por aliciadores, que convencem as vítimas com falsas promessas de uma vida melhor e cheia de sonhos no exterior. Todos os anos, cerca de 60 mil brasileiros são vítimas do tráfico internacional de pessoas, segundo o ministério da Justiça. E os números de casos não dão sinais de diminuição. Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), a cruel prática do tráfico de pessoas só perde para o de drogas como tipo de crime organizado mais lucrativo do mundo. Ao todo, o mercado movimenta cerca de 2,5 milhões de pessoas e mais de US$ 32 bilhões (R$ 50 bilhões) por ano, dos quais 80% são da exploração sexual de mulheres.
Nesse cenário, o Brasil é o maior exportador de mulheres das Américas, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). As brasileiras e as nascidas nos países do leste europeu estão entre as mais traficadas no comércio mundial para serem exploradas sexualmente. “O tráfico de pessoas é uma forma moderna de escravidão. Hoje se escravizam pessoas por dívida. Os traficantes mantêm o poder sobre elas, que devem as passagens, a estadia e a alimentação, fazendo com que se submetam ao que eles querem. Elas são mantidas sem condição de sair, porque não têm como pagar o que devem”, resume Ricardo Lins, coordenador nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Secretaria Nacional de Justiça, em entrevista à “Agência Brasil”, no ano passado.
O Brasil instituiu em 2008 o I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, através do Ministério da Justiça, e estabeleceu metas para solucionar o problema no País. “O Brasil avançou muito com a construção de núcleos de enfrentamento ao tráfico nos estados. São Paulo é onde o programa está mais avançado. O Plano lançado pelo Governo foi muito ambicioso”, afirma Flávia, da UNODC. Depois do plano, o número de aliciamentos em grandes centros urbanos diminuiu, segundo levantamento da organização europeia Centre for Migration Policy Development (ICMPD). Entretanto, o recrutamento de mulheres em áreas periféricas e pobres do País cresceu. A pesquisa mostra que os principais estados de origem das vítimas são Paraná, Goiás, Minas Gerais, Pará, Piauí e Pernambuco.
O Governo Federal está capacitando consulados e realizando campanhas de prevenção ao tráfico de mulheres nos aeroportos e cidades. “A gente quer priorizar zonas rurais e municípios de fronteira. O trânsito de mulheres também é grande nessas áreas”, diz Clarissa Corrêa, coordenadora de Acesso à Justiça e Combate à Violência da Secretaria de Políticas para as Mulheres. “Precisamos dar atenção para as diferentes formas que o tráfico aparece no Brasil. É uma atividade muito dinâmica e em cada local tem uma característica.”
Gisele Brito, Kátia Mello, Raquel Maldonado e Talita Boros. (Folha Universal)
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